12 julho 2006

O potencial produtivo e os PROF

Após a análise dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF), disponíveis online na DGRF, verifiquei que estes se debatem com uma dificuldade: a falta de cartografia adequada sobre solos e aptidão da terra para usos florestais ou o desconhecimento sobre a existência desta.

Nalguns PROF optou-se pela determinação do potencial produtivo da floresta de zonas aproximadamente homogéneas definidas através de factores do meio tais como o clima, o relevo ou a litologia. Mas o solo, um factor essencial, não foi considerado (embora seja salientado que ao nível local é necessário conhecerem-se as condições edafo-climáticas). Ficam sem resposta algumas perguntas essenciais... Onde é armazenada a água, factor decisivo para a produção florestal no clima mediterrâneo? Como é determinada a espessura de enraizamento? Como são avaliados os riscos de erosão?

Noutros PROF tentou determinar-se o potencial produtivo florestal com base na cartografia de solos existente (Carta dos Solos de Portugal). Este esforço em fazer a referida ligação entre os solos e a produtividade é de louvar, no entanto, baseia-se em metodologias não padronizadas, sem possibilidade de comparação com outros planos e cartas de aptidão, e a informação sobre solos usada na definição da aptidão florestal é limitada. Por exemplo, a espessura do solo, a espessura de enraizamento ou a concentração de calcários activos não são especificados na Carta de Solos de Portugal para a esmagadora maioria dos tipos de solos.

Existem ainda PROF que não entram em linha de conta com o solo na definição espacial das sub-regiões. Referem o solo para abordar o problema da erosão, pois as questões ambientais estão na ordem do dia, mas não fazem qualquer referência sobre o impacto da distribuição dos solos na definição do potencial produtivo. O problema é remetido para os Planos Directores Municipais, salientando-se a necessidade de se conhecerem as condições edafo-climáticas a esse nível.

Na elaboração dos vários PROF é evidente a falta de cartografia de solos e de aptidão da terra para a floresta. As causas são as já referidas limitações da Carta de Solos de Portugal, mas também a falta de interesse em integrar os conhecimentos sobre solos nas actividade silvícola. Infelizmente, falar em adequar a floresta às condições edafo-climáticas e nada fazer tem sido um lugar comum em Portugal. A Estratégia Nacional para as Florestas aponta este aspecto como uma das suas grandes linhas, esperando-se que proximamente possamos ver os efeitos desta promessa.

Seria extremamente útil tentar correlacionar-se os dados do Inventário Florestal com a cartografia de solos no sistema da FAO, considerando que:

  • Existe um sistema de classificação de solos desenvolvido pela FAO, bem estruturado e de aplicação universal, que permite incluir propriedades importantes para diversos tipos de uso da terra;
  • 45% da área do continente está cartografada neste sistema, e desenvolvida respectiva cartografia de aptidão florestal (escala 1/100 000);
  • Existem dados do Inventário Florestal em quantidade e qualidade para todo o país.

A partir destas correlações, poderia com grande facilidade obterem-se valores de aptidão florestal para qualquer ponto do território, partindo do conhecimento dos tipos de solo presentes e dos restantes factores do meio.

04 julho 2006

Livro: Produtividade dos Solos e Ambiente

Para quem se interessa por solos e nutrição vegetal, aconselho a leitura de "Produtividade dos Solos e Ambiente" da Professora Amarillis De Varennes do Instituto Superior de Agronomia. Trata-se de um livro extremamente bem escrito, acessível mesmo para os não especialistas, mas de evidente utilidade para todos os que têm de tomar decisões sobre a gestão do solo por forma a atingir as melhores produtividades sem degradar o ambiente. Está escrito de uma forma bastante pedagógica, mas simultaneamente profunda e cientificamente fundamentada, e está cheio de pistas sobre situações práticas. Será uma pena passar ao lado!