22 maio 2006

Solo, água e produtividade florestal

Sendo a quantidade de água transpirada e a produção de matéria seca funções da área foliar do coberto, compreende-se, como o demonstraram Bierhuizen e Slatier [1], que a produção esteja intimamente associada à transpiração. Ao nível da folha, o papel de charneira dos estomas na assimilação do dióxido de carbono e na transpiração, determinam a relação positiva normalmente existente entre os dois processos ([2], p. 33). Os povoamentos florestais, quando comparada com as culturas agrícolas rasteiras, apresentam elevado desenvolvimentos radiculares, elevadas resistências aerodinâmicas e reduzido albedo, estando por isso a sua produtividade particularmente dependente da quantidade de água disponível.

Entre o final da Primavera e o fim do Verão existem no clima mediterrânico condições de temperatura e luminosidade muito favoráveis ao crescimento florestal, no entanto a água, um factor vital ao crescimento, está normalmente bastante indisponível. Neste período, podem obter-se ganhos em termos de produtividade, tirando partido das características dos solos em prol de uma melhor gestão da água.

O solo modifica o efeito da precipitação e da evapotranspiração sobre o balanço hidrológico podendo alterar significativamente a quantidade de água disponível para o crescimento florestal. Por exemplo, em zonas com precipitação é abundante, o solo pode determinar uma baixa disponibilidade hídrica se apresentar uma capacidade de armazenamento baixa. Em trabalhos de cartografia de solos elaborados recentemente no norte e centro interior de Portugal detectaram-se capacidades de armazenamento de água médias das unidades pedológicas variando entre 25 e 200 mm [1]. A drenagem interna e externa do solo também afectam significativamente a água disponível (ou em excesso) e logo a água que é possível reter (ou que seria desejável drenar). A alternância entre a estação fria e húmida com a estação quente e seca, provoca mortalidade em muitas árvores devido ao dieback das raízes. Este facto ocorre porque as árvores diminuem a área foliar como mecanismo de evitarem a desidratação dos tecidos no período de défice hídrico, o que lhes impede de transpirar a água em excesso no solo no início das chuvas, conduzindo à asfixia das raízes ([4], p. 217).

Dada a importância do solo para a modelação e gestão da água, e a importância da água para a produtividade florestal, é urgente que as propriedades do solo sejam consideradas nos diversos estudos, planos e projectos florestais. No entanto, talvez pela escassez de informação deste tipo, verifica-se que aquelas ou são ignoradas ou no máximo reduzidas a valores hipotéticos padronizados generalizáveis a todo o país.

  1. Agroconsultores e Geometral (2004). Elaboração das cartas de solos e de aptidão das terras da Zona Interior Centro. IDRHa. Lisboa.
  2. Alves A.M. et al. (1990). Impactes ambientais e sócio-económicos do eucaliptal em Portugal". (eds. A.M. Alves e J.S. Pereira). Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Técnica de Lisboa, Portugal.
  3. Bierhuizen J.F. e Slatyer R.O. (1965). Effect of atmospheric concentration of water vapour and CO2 in determining transpiration-photosynthesis relationships of cotton leaves. Agricultural Meteorology, 2: 259-270.
  4. Armson, K. A. (1979). Forest soils: properties and processes. University of Toronto Press. Toronto.

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