24 julho 2008

Harmonized World Soil Database

A Base de Dados Mundial Harmonizada dos Solos (Harmonized World Soil Database ou HWSD), desenvolvida por um grupo liderado pela FAO e pelo IIASA, melhora o conhecimento actual e futuro da produtividade da terra e também sobre o actual armazenamento de carbono e o potencial de sequestro de carbono do solos mundiais.

A falta de dados do solo confiáveis e harmonizados tem limitado a produção de avaliações à degradação da terra, de estudos de impacto ambiental e de intervenções sustentáveis no maneio da terra. O que levou à produção desta base de dados foram os requisitos do estudo conjunto Global Agroecological Assessment (GAEZ 2008), mas também a necessidade urgente de ter informação melhorada sobre o solo a nível mundial no contexto da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas e do Protocolo de Quioto para a quantificação de carbono.

Encontrei a notícia na FAONewsroom.

15 julho 2008

Biosoil no campo

Participar no projecto Biosoil em território português, deu-me a oportunidade de conhecer o litoral da Beira Litoral, o Ribatejo, o Alentejo e o Algarve e acabei por me deparar com algumas novidades que ainda não tinha encontrado em trabalhos anteriores. Alguns exemplos?

As areias do Cenozóico com um desenvolvimento pedológico muito insipiente, mas que no caso mais interessante mostraram um Podzol. O horizonte espódico (de cor escura, de acumulação de carbono orgânico e ferro iluvial, a partir dos 75cm) aparece de forma nítida abaixo do horizonte álbico (de cor esbranquiçada, por perda dos oxidos de ferro, da matéria orgânica e da pouca argila, a partir dos 60cm).

Podzol

Para além de serem uma estreia pessoal, os gabros constituiram um desafio adicional, pois foram vários os casos em que a presença das plagioclases cálcicas deram origem a perfis bastante diferentes do que estava habituado e julgo que vou ter mais algumas novidades quando chegarem os resultados do laboratório.

O material originário é gabro

07 julho 2008

CICS 2008

O congresso realizado em Évora foi uma oportunidade para verificar o que está a acontecer no "mundo do solo".

Foi fácil ter as expectativas ultrapassadas, pois foi a primeira vez que assitisti à versão ibérica. Mas as participações não se limitaram à nossa península e estiveram presentes investigadores de universidades do Brasil. A variadade de temas e a apresentação destes em sessões simultâneas deram-me que fazer para conseguir assistir às comunicações que mais interesse me despertaram.

Destaco algumas das comunicações que assisti com citações que achei interessantes:

Climate change - can soil make a diference? - Luca Montanarella

"No Reino Unido a redução de emissões é completamente compensada pela libertação de carbono do solo (13 Mton/ano). No Mediterrâneo a situação é ainda mais difícil, devido a processos de degradação como a erosão."
"Cinco países não apoiam a Directiva Quadro do Solo: Reino Unido, França, Austria, Holanda e Alemanha."

Índices de classe de qualidade da estação em povoamentos florestais de Sobreiro e Pinheiro Manso - Alfredo Gonçalves Ferreira

"Mais do que cartas de solos é importante interpretar as características do solo e do meio."

Indicadores da qualidade física e do estado crítico de consolidação do solo em áreas canavieiras, SP (Brasil) - Reginaldo Barbosa da Silva

"Os efeitos económicos e ambientais da degradação do solo por compactação não são tidos em conta nos custos do produto nem sequer são considerados na regulamentação."

Enseñanza de la edafologia en el marco del espacio europeo de educación superior: Taller de Granada - Jaume Porta

"Passar de professor que dita a professor-tutor."

23 junho 2008

Solo em Congresso Ibérico

Na semana que vem realiza-se em Évora o III Congresso Ibérico da Ciência do Solo.
CICS 2008No programa bastante extenso pode-se averiguar a diversidade da investigação sobre o solo que foi levada a cabo recentemente em Portugal e Espanha.

As inscrições ainda estão abertas.

24 julho 2007

Análises de terra

Que laboratórios existem em Portugal que prestem serviços de análises de terra? Se encontrar um laboratório que faça análises de terra não é difícil, não é o fim da conversa.

Antes de colher as amostras e as entregar para análise, é importante fazer mais algumas verificações. Entre os factores a tomar em conta, de acordo com as necessidades do cliente, estão:
  • análises que estão à disposição,
  • instruções para colher e entregar a(s) amostra(s)
  • métodos seleccionados,
  • controlo de qualidade,
  • qualidade dos resultados obtidos,
  • preços praticados,
  • disponibilidade e rapidez de execução,
Alguns destes pontos podem ser verificados facilmente através da informação fornecida pelo laboratório. Outros são muitas vezes uma grande incógnita para os potenciais clientes. Será sempre boa ideia indagar junto de outros clientes sobre a fiabilidade dos resultados obtidos.
Nem todos os laboratórios activos fazem trabalhos externos, muitos existem para satisfazer necessidades internas das instituições a que pertencem e, eventualmente, para responderem a protocolos estabelecidos com outras instituições ou a solicitações pontuais. A lista de laboratórios que aqui fica não representa tudo o que há em Portugal, mas deve andar lá perto...
Conhecem mais algum laboratório?
Actualização 05-07-2008

21 dezembro 2006

Encontro SPCS

O próximo Encontro da Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo vai realizar-se em Vila Real de 4 a 6 de Julho de 2007. O tema escolhido para esta edição é "O solo, a paisagem e o uso da terra".

Informações adicionais estão já disponíveis.

25 setembro 2006

Estratégia Temática para a Protecção dos Solos

União Europeia - Proteção do Solo

A Comissão Europeia apresentou a Estratégia Temática para a Protecção dos Solos. Com isto pretende estabelecer uma base de trabalho comum para o desenvolvimento de políticas e de legislação que defendam o solo da degradação e que promovam a sua recuperação e uso sustentável enquanto suporte da actividade humana e dos ecossistemas.

A Comissão Europeia pretende dar resposta às ameaças causadas pela erosão, perda de matéria orgânica, compactação, salinisação, deslizamento de terras, contaminação e impermeabilização.

Esta estratégia foi a última de sete a ser apresentada, talvez pela polémica que envolveu o seu desenvolvimento.

21 setembro 2006

Redefinição de solo

O solo na definição já aqui publicada corresponde aproximadamente a um conceito aceite universalmente. No entanto, com a publicação da 2ª edição da WRB, a FAO alarga o conceito e define o solo como:

qualquer material nos primeiros 2 metros a partir da superfície terrestre, que está em contacto com a atmosfera, com excepção de organismos vivos, áreas de gelo contínuo não cobertas por outro material e corpos de água de profundidade superior a 2 metros.

Neste recente documento explica-se que passam a ser considerados como solo os afloramentos rochosos, os solos urbanos pavimentados, os solos de áreas industriais, os solos em cavernas e os solos subaquáticos (a uma profundidade inferior a 2 metros).

Em alguns aspectos, afasta-se do conceito mais clássico de solo e da ideia de suporte à vida de plantas. Os solos passam a considerar usos mais diversificados, deixando de estar confinado às actividades produtivas do sector primário.

Embora inicialmente esta mudança possa parecer um pouco estranha, a sua vantagem é perceptível quando se fala do papel do solo em questões como o ordenamento do território e problemas ambientais, que podem ser abordadas "de forma mais sistemática e holística".

12 setembro 2006

Os solos segundo a FAO

Tendo como alvo central o combate da fome a FAO tem promovido o conhecimento científico e técnico necessário para que países subdesenvolvidos e em desenvolvimento tenham as ferramentas necessárias para enfrentar essa luta.

Para um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis desenvolveu metodologias de estudo do solo que têm sido uma referência neste domínio. A FAO contribui para a qualidade na classificação e cartografia de solos, marcada desde 1974 com a publicação da Legend of the Soil Map of the World, uma primeira chave para a classificação dos solos de todo o mundo. Desde então várias revisões foram feitas para melhorar a identificação e classificação dos solos.

Capa WRB 2006
Capa da última revisão da WRB

A última revisão da World Reference Base for Soil Resources (WRB) foi publicada em Junho deste ano. Actualmente a WRB é um trabalho conjunto da FAO, do ISRIC e da IUSS. Será o sistema de classificação de solos mais usado no mundo e, por isso, a plataforma ideal para o desenvolvimento de trabalho de inventariação e cartografia de solos.

O documento está online numa versão mais leve (PDF, 1,56MB) para arquivar facilmente e numa versão mais pesada (PDF, 4,16MB) para imprimir com qualidade.

12 julho 2006

O potencial produtivo e os PROF

Após a análise dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF), disponíveis online na DGRF, verifiquei que estes se debatem com uma dificuldade: a falta de cartografia adequada sobre solos e aptidão da terra para usos florestais ou o desconhecimento sobre a existência desta.

Nalguns PROF optou-se pela determinação do potencial produtivo da floresta de zonas aproximadamente homogéneas definidas através de factores do meio tais como o clima, o relevo ou a litologia. Mas o solo, um factor essencial, não foi considerado (embora seja salientado que ao nível local é necessário conhecerem-se as condições edafo-climáticas). Ficam sem resposta algumas perguntas essenciais... Onde é armazenada a água, factor decisivo para a produção florestal no clima mediterrâneo? Como é determinada a espessura de enraizamento? Como são avaliados os riscos de erosão?

Noutros PROF tentou determinar-se o potencial produtivo florestal com base na cartografia de solos existente (Carta dos Solos de Portugal). Este esforço em fazer a referida ligação entre os solos e a produtividade é de louvar, no entanto, baseia-se em metodologias não padronizadas, sem possibilidade de comparação com outros planos e cartas de aptidão, e a informação sobre solos usada na definição da aptidão florestal é limitada. Por exemplo, a espessura do solo, a espessura de enraizamento ou a concentração de calcários activos não são especificados na Carta de Solos de Portugal para a esmagadora maioria dos tipos de solos.

Existem ainda PROF que não entram em linha de conta com o solo na definição espacial das sub-regiões. Referem o solo para abordar o problema da erosão, pois as questões ambientais estão na ordem do dia, mas não fazem qualquer referência sobre o impacto da distribuição dos solos na definição do potencial produtivo. O problema é remetido para os Planos Directores Municipais, salientando-se a necessidade de se conhecerem as condições edafo-climáticas a esse nível.

Na elaboração dos vários PROF é evidente a falta de cartografia de solos e de aptidão da terra para a floresta. As causas são as já referidas limitações da Carta de Solos de Portugal, mas também a falta de interesse em integrar os conhecimentos sobre solos nas actividade silvícola. Infelizmente, falar em adequar a floresta às condições edafo-climáticas e nada fazer tem sido um lugar comum em Portugal. A Estratégia Nacional para as Florestas aponta este aspecto como uma das suas grandes linhas, esperando-se que proximamente possamos ver os efeitos desta promessa.

Seria extremamente útil tentar correlacionar-se os dados do Inventário Florestal com a cartografia de solos no sistema da FAO, considerando que:

  • Existe um sistema de classificação de solos desenvolvido pela FAO, bem estruturado e de aplicação universal, que permite incluir propriedades importantes para diversos tipos de uso da terra;
  • 45% da área do continente está cartografada neste sistema, e desenvolvida respectiva cartografia de aptidão florestal (escala 1/100 000);
  • Existem dados do Inventário Florestal em quantidade e qualidade para todo o país.

A partir destas correlações, poderia com grande facilidade obterem-se valores de aptidão florestal para qualquer ponto do território, partindo do conhecimento dos tipos de solo presentes e dos restantes factores do meio.

04 julho 2006

Livro: Produtividade dos Solos e Ambiente

Para quem se interessa por solos e nutrição vegetal, aconselho a leitura de "Produtividade dos Solos e Ambiente" da Professora Amarillis De Varennes do Instituto Superior de Agronomia. Trata-se de um livro extremamente bem escrito, acessível mesmo para os não especialistas, mas de evidente utilidade para todos os que têm de tomar decisões sobre a gestão do solo por forma a atingir as melhores produtividades sem degradar o ambiente. Está escrito de uma forma bastante pedagógica, mas simultaneamente profunda e cientificamente fundamentada, e está cheio de pistas sobre situações práticas. Será uma pena passar ao lado!

21 junho 2006

Propriedades do solo, crescimento radicular e produção florestal

O papel do solo na produção florestal pode ser analisado em termos do efeito do solo no crescimento das raízes, e da relação entre este e o crescimento da parte aérea. Muitas espécies florestais têm hábito de enraizamento característico, controlado geneticamente, expressão de uma estratégia de adaptação ajustada a solos com propriedades específicas, sendo no entanto vulneráveis quando aquelas propriedades não estão presentes (ver quadro).

Hábito de enraizamento característicos de alguns géneros florestais (adaptado de [5], p. 150)

Tap root: Carya; Junglans; Quercus; Pinus; Abies
Heart root: Larix; Betula; Carpinus; Tilia
Sinker (flat) root: Populus; Fraxinus; Picea (algumas espécies)

Também existem espécies com elevada plasticidade de hábito de enraizamento, aclimatando-se a diversos meios, definidos pelas propriedades do solo. Apesar do elevado peso da componente genética nalgumas espécies, o solo (componente ambiental) determina sempre em maior ou menor grau a forma do sistema radicular de todas as espécies, nomeadamente através das limitações impostas ao crescimento das raízes. Em qualquer dos casos o conhecimento do solo é sempre útil, quer seja para seleccionar as espécies melhor adaptadas a determinado tipo solo, quer seja para avaliar as características gerais dos solo das quais todas as espécies podem tirar partido através de mecanismos de aclimatação.

Sem dúvida que é vantajoso aproveitar a tendência natural que determinadas formas de sistemas radiculares apresentam para explorar determinados tipos de solos. Por exemplo, a maior parte dos pinheiros tem capacidade para produzir raízes extensas em solos ligeiros, sendo a quantidade de biomassa radicular muito afectada pela textura e pela estrutura do solo devido à impedância e ao arejamento; espécies dos géneros Salix, Alnus e espécies como a Taxodium distichum vegetam bem em solos saturados com água, enquanto a maioria das espécies necessitam de se aclimatar às flutuações da toalha freática e ao déficite hídrico; no leste dos Estados Unidos a Pinus resinosa Ait. é conhecida por ser mais sensível à redução do arejamento do que as restantes coníferas [2]. Espécies como a Picea nigra parecem apresentar um forte controlo genético, sendo pouco sensíveis a variações do meio, mas a maior parte das espécies apresenta elevado grau de aclimatação. Existem espécies com sistemas radiculares vocacionados para a exploração de solos com elevada estratificação (Picea glauca, Picea nigra, larício oriental). Em solos em que a penetração das raízes é limitada pela pedregosidade ou pela espessura sobre a rocha fissurada, as espécies que desenvolvem raízes laterais, oblíquas e sinkers têm vantagem em relação a outros tipos de raízes (ex. Pinus strobus). Espécies com tendência para formar um sistema radicular mais aberto estão mais adaptadas a explorar materiais mais heterogéneos (ex. Bétula).

De forma geral pode afirmar-se que a impedância, o teor de oxigénio, a temperatura do solo e a disponibilidade de água e nutrientes em formas assimiláveis são os factores edáficos mais importantes no condicionamento do desenvolvimento dos sistemas radiculares das árvores. O desenvolvimento das raízes finas em quantidade e em profundidade depende fortemente do teor de humidade, da quantidade de nutrientes e do grau de mobilização do solo, sendo as características fenológicas menos responsáveis pelo ritmo do crescimento das raízes [1][3]. A intensidade de enraizamento das raízes finas nos horizontes superficiais depende tanto da humidade, temperatura e arejamento como do controlo genético ([2] p. 213, [5] p. 152). De forma geral as raízes finas situam-se em maior quantidade próximo da superfície a não ser que em profundidade as condições sejam mais favoráveis [4]. No clima mediterrânico durante grande parte do ano os horizontes superficiais do solo podem estar sujeitos a elevada dissecação. No entanto, em igualdade de outros factores, concentrações baixas de azoto e fósforo a falta de água levam a uma diminuição da razão entre as biomassa da parte aérea e radicular, ou seja, a planta é obrigada a investir mais energia no sistema radicular relativamente ao que seria normal ([6], p. 299). A temperatura do solo afecta o alongamento das raízes ([5], p. 158). Em E. globulus a taxa máxima de crescimento das raízes finas ocorreu no final da primavera/início do verão, quando a temperatura média do ar foi superior a 15ºC e a humidade no solo ainda era suficiente para suportar o crescimento radicular [1].

O crescimento das raízes é determinante para o crescimento da parte aérea das árvores. Em povoamentos de Pseudotsuga menziesii observou-se que as árvores dominantes apresentavam raízes (diâmetro superior a 1cm) de comprimento superior às árvores dominadas ou intermédias ([2] p. 213). É geralmente aceite que árvores dominantes têm raízes laterais vigorosas com sistemas de raízes finas bem desenvolvidas, enquanto as árvores codominantes têm apenas um terço do comprimento total de raízes e 40% da biomassa radicular ([5] p. 154).

O conhecimento das relações entre as propriedades dos solos e a produção florestal é fundamental para implementar a gestão florestal, uma vez que à escala local o solo é dos principais discriminantes da produtividade, nomeadamente através do condicionamento do crescimento radicular e do armazenamento de água e nutrientes. Só com este conhecimento concreto, integrado com a análise dos efeitos de outros factores, as decisões nos projectos e nos planos de gestão deixam de ser subjectivas. De facto, muitas vezes cada opção de gestão tem efeitos positivos e negativos, estando a “arte” em determinar o nível correcto em que se devem aplicar.

Referências

  1. Fabião A., Madeira M., Steen E., Kätterer T. e Ribeiro C. Growth dynamics and spatial distribution of root mass in Eucalyptus globulus plantations in Portugal.
  2. Armson K.A. Forest soils: properties and processes. 1979. University of Toronto Press. Toronto
  3. Kätterer T., Fabião A., Madeira M., Ribeiro C. e Steen E. 1995. Fine-root dynamics, soil moisture and soil carbon content in a Eucalyptus globulus plantation under different irrigation and fertilization regimes. Forest ecology and management 74. 1-12.
  4. Kimmins J.P. Forest ecology. A foundation for sustainable management. 2ª ed. 1997. Prentice Hall.
  5. Pritchett W. e Fisher R. Properties and management of forest soils. 2ª ed. 1985. John Wiley and Sons.
  6. Varennes A. de. Produtividade dos solos e ambiente. 2003. Escolar Editora. Lisboa.

29 maio 2006

Do que estamos a falar?

O solo, referido assim, deve parecer, à maior parte das pessoas, um tema estranho, desconhecido e algo longínquo. Por isso, é relevante entender que relações tem com o nosso mundo, como nos afecta e como o afectamos. Porque essas relações podem ser descritas segundo vários pontos de vista, o estudo do solo tem correspondido a essas necessidades.

Para esclarecer sobre as várias vertentes do conhecimento do solo, parece-me boa ideia usar os vários temas adoptados pela International Union of Soil Sciences (IUSS) para nomear as suas comissões científicas:

O Solo no Espaço e no Tempo

  • Morfologia e micromorfologia do solo
  • Geografia do solo
  • Génese do solo
  • Classificação do solo
  • Pedometria
  • Paleopedologia

As Propriedades e os Processos do Solo

  • Física do solo
  • Química do solo
  • Biologia do solo
  • Mineralogia do solo
  • Reacções interfaciais do solo

O Uso e Maneio do Solo

  • Avaliação do solo e planeamento do uso da terra
  • Conservação do solo e da água
  • Fertilidade do solo e nutrição das plantas
  • Engenharia e tecnologia do solo
  • Controlo da degradação, descontaminação e recuperação do solo

Outros

  • Solo e ambiente
  • Solo, segurança alimentar e saúde humana
  • Solos e alterações do uso da terra
  • Educação e sensibilização pública sobre o solo
  • História, filosofia e sociologia da ciência do solo

Os temas referidos são muitos e proporcionam muitas oportunidades para aprender mais sobre um recurso ainda a ser descoberto. Julgo que será boa ideia deixar as portas abertas.

26 maio 2006

Definição de solo

Deparo-me com várias definições de solo. Porque há sempre uma que tem algo que faz falta noutra, resolvi tentar compilar os conceitos que me pareceram mais relevantes.

s. m., do Lat. solu

Conjunto de materiais minerais, orgânicos, água e ar, não-consolidados, normalmente localizado à superfície da terra, com actividade biológica e capacidade para suportar a vida das plantas.

Como complemento, com um cariz mais enciclopédico, pode-se acrescentar o conceito moderno, traduzido e adaptado do
Soil Survey Manual:

O solo tem o seu limite superior na atmosfera ou, quando submerso, numa camada de água pouco profunda. Nos limites laterais transita gradualmente para águas profundas ou áreas estéreis constituídas por rocha ou gelo. O seu limite inferior é, talvez, o mais difícil de definir. O solo inclui os materiais próximos da superfície que diferem do material rochoso subjacente como resultado da interacção, ao longo do tempo, do clima, dos organismos vivos, do material originário e do relevo. Normalmente, a sua variação é gradual até ao limite inferior com o material originário, onde cessa a actividade biológica, e coincide com a profundidade de enraizamento das plantas perenes nativas.

Dêem também a vossa opinião.

ADENDA (21 Set 2006)
Ver também Redefinição de Solo

Gestão de resíduos de abate florestal

O problema da gestão dos resíduos de abate de povoamentos florestais está ligado à necessidade em reduzir a carga de detritos de modo a tornar possíveis as acções de preparação do terreno e de plantação. A outro nível é necessário também atender aos efeitos de cada opção de gestão daqueles resíduos sobre a produtividade, quer através da alteração das características físicas e químicas do solo, quer do papel que podem exercer no controlo da vegetação espontânea.

Se a opção de gestão for deixar os resíduos no terreno as grandes vantagens para o solo são as seguintes: maior devolução de nutrientes ao solo, maior teor em matéria orgânica (aumentando a retenção de água e a capacidade de troca catiónica), protecção do solo da compactação (feita pelos detritos deixados à superfície), redução da germinação da vegetação espontânea e diminuição das perdas de água por evaporação e da oxidação da matéria orgânica dos horizontes superficiais.

Não é de menor importância o modo como os resíduos são distribuídos no terreno, já que, para além do tipo de disposição espacial ser importante para a regulação do escoamento superficial em locais com declive elevado, a própria dimensão das partículas dos resíduos determina o tipo de destino que se pretende dar no curto prazo a alguns nutrientes neles contidos, nomeadamente o azoto.

No que respeita aos cepos, a sua remoção deve ser evitada por ser dispendiosa. Por outro lado, a sua posterior queima ou estilhaçamento conduzem sempre a perda de nutrientes. No primeiro caso, por volatilização, nomeadamente de azoto, e por convecção das cinzas elevadas no ar; no segundo, porque a redução da dimensão das partículas aumenta a competição entre os microrganismos e as plantas, diminuindo o azoto disponível na solução do solo.

A remoção total dos resíduos de abate tem efeitos opostos aos apresentados, só se justificando se os custos da extracção e transporte e da perda da fertilidade do solo forem compensados pela sua venda e pela diminuição dos custos de tratamento dos resíduos para os manter no povoamento. No entanto, os benefícios para o solo, ao manter resíduos no terreno, são dificilmente conseguidos recorrendo a métodos artificiais ou implicam custos adicionais. Em experiências realizadas em eucalipto tem-se constatado que numa exportação total da biomassa os balanços dos principais nutrientes são largamente negativos, variando as deficiências entre 45 e 75% das necessidades das árvores. Além disso, estes valores estão longe de poderem ser compensados através do balanço entre os inputs da alteração das rochas e entradas atmosféricas e os outputs devidos às perdas por drenagem.

O recurso ao fogo controlado justifica-se apenas por ser uma técnica barata para reduzir o volume de detritos de dimensão elevada, nomeadamente em locais onde a maquinização é difícil. Quando mal utilizado, o fogo controlado pode ser fonte de degradação para a estação florestal devendo por isso ter-se os seguintes cuidados: em primeiro lugar deve evitar-se temperaturas demasiado elevadas (>300ºC) que conduzam à perda de nutrientes por volatilização, à destruição da matéria orgânica (com consequente perda da estrutura e aumento da erosão) e ao favorecimento da vegetação expontânea; em segundo, para diminuir aqueles efeitos, mesmo após fogos devidamente controlados, o terreno deve ser imediatamente preparado e ocupado por nova plantação ou sementeira.

22 maio 2006

Solo, água e produtividade florestal

Sendo a quantidade de água transpirada e a produção de matéria seca funções da área foliar do coberto, compreende-se, como o demonstraram Bierhuizen e Slatier [1], que a produção esteja intimamente associada à transpiração. Ao nível da folha, o papel de charneira dos estomas na assimilação do dióxido de carbono e na transpiração, determinam a relação positiva normalmente existente entre os dois processos ([2], p. 33). Os povoamentos florestais, quando comparada com as culturas agrícolas rasteiras, apresentam elevado desenvolvimentos radiculares, elevadas resistências aerodinâmicas e reduzido albedo, estando por isso a sua produtividade particularmente dependente da quantidade de água disponível.

Entre o final da Primavera e o fim do Verão existem no clima mediterrânico condições de temperatura e luminosidade muito favoráveis ao crescimento florestal, no entanto a água, um factor vital ao crescimento, está normalmente bastante indisponível. Neste período, podem obter-se ganhos em termos de produtividade, tirando partido das características dos solos em prol de uma melhor gestão da água.

O solo modifica o efeito da precipitação e da evapotranspiração sobre o balanço hidrológico podendo alterar significativamente a quantidade de água disponível para o crescimento florestal. Por exemplo, em zonas com precipitação é abundante, o solo pode determinar uma baixa disponibilidade hídrica se apresentar uma capacidade de armazenamento baixa. Em trabalhos de cartografia de solos elaborados recentemente no norte e centro interior de Portugal detectaram-se capacidades de armazenamento de água médias das unidades pedológicas variando entre 25 e 200 mm [1]. A drenagem interna e externa do solo também afectam significativamente a água disponível (ou em excesso) e logo a água que é possível reter (ou que seria desejável drenar). A alternância entre a estação fria e húmida com a estação quente e seca, provoca mortalidade em muitas árvores devido ao dieback das raízes. Este facto ocorre porque as árvores diminuem a área foliar como mecanismo de evitarem a desidratação dos tecidos no período de défice hídrico, o que lhes impede de transpirar a água em excesso no solo no início das chuvas, conduzindo à asfixia das raízes ([4], p. 217).

Dada a importância do solo para a modelação e gestão da água, e a importância da água para a produtividade florestal, é urgente que as propriedades do solo sejam consideradas nos diversos estudos, planos e projectos florestais. No entanto, talvez pela escassez de informação deste tipo, verifica-se que aquelas ou são ignoradas ou no máximo reduzidas a valores hipotéticos padronizados generalizáveis a todo o país.

  1. Agroconsultores e Geometral (2004). Elaboração das cartas de solos e de aptidão das terras da Zona Interior Centro. IDRHa. Lisboa.
  2. Alves A.M. et al. (1990). Impactes ambientais e sócio-económicos do eucaliptal em Portugal". (eds. A.M. Alves e J.S. Pereira). Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Técnica de Lisboa, Portugal.
  3. Bierhuizen J.F. e Slatyer R.O. (1965). Effect of atmospheric concentration of water vapour and CO2 in determining transpiration-photosynthesis relationships of cotton leaves. Agricultural Meteorology, 2: 259-270.
  4. Armson, K. A. (1979). Forest soils: properties and processes. University of Toronto Press. Toronto.

19 maio 2006

Solos com estratégia?

O início do período de discussão pública do PNPOT, trouxe algumas novidades. Em notícia divulgada no Público, o Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades, João Ferrão, referiu que:

(...) para obviar ao problema da falta de cartas de solos actualizadas, estão a ser lançadas as bases de uma estratégia nacional de cartografia, em relação à qual será aberto brevemente um debate.

Parece que as necessidades de uma cobertura do território com uma cartografia de solos adequada às necessidades que o país actualmente enfrenta, se fizeram ouvir.

Já se esperou muito tempo. Demais.

17 maio 2006

O solo e o planeamento florestal

O solo é um dos factores do meio mais importantes para a definição da classe de qualidade da estação florestal, para além da precipitação, da temperatura, da luz e do vento, com os quais pode interagir alterando os seus efeitos. No entanto, quer o défice de informação disponibilizada pelo estado, quer os hábitos existentes na silvicultura (técnicos) em ignorar, ou quanto muito reduzir as propriedades do solo às da litologia, têm dificultado que o solo seja considerado de forma determinante na elaboração dos projectos florestais.

Embora a norte do Tejo, a região com maior potencial florestal, exista cartografia de solos e aptidão florestal à escala 1/100 000, o conhecimento sobre solos é praticamente inexistente à escala da gestão e do projecto florestal, determinando também a não existência de conhecimento sobre aptidão florestal. A sul do Tejo, existe cartografia de solos à escala 1/50 000, no entanto, a carta de capacidade de uso da terra dela derivada não se adequa minimamente à utilização para a floresta, sendo também muito limitada para diversos tipos de culturas agrícolas (pomares, arbustivas, etc.) e mesmo para os cereais já que não incorpora informação climática.

Para além do défice de informação, a não consideração do solo ou a conotação que se faz entre ele e a litologia nas aplicações florestais tem origem em diversos factores, que se passam a analisar.

Nos solos portugueses o material originário encontra-se próximo da superfície, conferindo-lhes espessuras relativamente reduzidas comparativamente com os solos de países de climas mais quentes e chuvosos. Por outro lado, grande parte das áreas atribuídas à florestação são declivosas, de impossível operacionalização em termos agrícolas, e consideradas, embora erradamente, como tendo sistematicamente solos pouco espessos. Embora genericamente aceite, a assunção de que os solos das áreas declivosas são pouco espessos é contrariada por trabalhos recentes nesses territórios à escala 1/100 000, onde se verificou elevada variabilidade de tipos de solos e a ocorrência de solos muito espessos também em declives elevados.

A permissividade relativamente à não consideração do solo parece ter sido particularmente facilitada num contexto de necessidade de rápida expansão da área florestal para abastecimento industrial, abundância de subsídios, baixa competitividade, reduzida valorização da floresta e menor expressão dos riscos associados ao investimento. No entanto, hoje em dia, o contexto económico e social é completamente diferente, caracterizando-se por um maior número de funções atribuídas à floresta, pela abertura dos mercados, pelo desinteresse crescente em relação à agricultura marginal, pelas alterações climáticas com efeitos na expressão dos riscos. Assim, é premente passar-se a conhecer e a utilizar informação adequada sobre solos e aptidão florestal (solo + outros factores) nos planos e projectos florestais.

Mas é também ao sector florestal, nomeadamente às autoridades que distribuem os subsídios e aos interessados na rentabilização da floresta, que cabe exigir a utilização de informação adequada sobre solos e aptidão florestal da terra antes da aprovação de projectos e planos de gestão. O velho hábito de ignorar o solo, ou quanto muito reduzi-lo a características litológicas gerais, tem que ser ultrapassado, devendo ser clara a relação entre o solo, a aptidão da terra e a avaliação de cada projecto.

Discussão pública do PNPOT

Começa hoje o período de discussão pública da proposta do Programa
Nacional da Política de Ordenamento do Território
(PNPOT), que terá a duração de 60 dias úteis, até 9 de Agosto de 2006.

A Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano (DGOTDU) apresenta o PNPOT como o

Instrumento de desenvolvimento territorial de natureza estratégica, de âmbito nacional, cujas directrizes e orientações fundamentais traduzem um modelo de organização espacial que terá em conta o sistema urbano, as redes, as
infra-estruturas e os equipamentos de interesse nacional, bem como as áreas de
interesse nacional em termos agrícolas, ambientais e patrimoniais. (...)

O PNPOT é constituído por dois documentos: o Relatório e o Plano de Acção. Em relação ao solo, no primeiro analisa-se o uso do solo e ordenamento agrícola e florestal, no segundo apontam-se os objectivos de definir e executar uma Estratégia Nacional de Protecção do Solo e de promover o ordenamento e a gestão sustentável da silvicultura e dos espaços florestais.

Voltarei ao assunto.

ADENDA (9 Ago 2006)
O período de discussão pública do PNPOT foi prorrogado até ao próximo dia 31 de Outubro.

16 maio 2006

Uma intenção

O solo é um dos recursos naturais que tem sido largamente utilizado pelo Homem. No entanto, o seu relevante papel na actividade humana não têm tido correspondência na divulgação do seu conhecimento.

O Solo Português inicia-se como espaço de publicação de informação sobre este tema. Pretende divulgar informação relacionada proveniente de vários sectores: queremos saber que políticas são definidas, que investigação é desenvolvida, que trabalhos são executados, que informação existe, como é o solo usado.

Com isso espera-se criar um espaço de partilha de informação disponível aos intervenientes e utilizadores do recurso solo. Porque se quer uma comunicação participada o espaço aos comentários está aberto.

Desta forma, julgamos estar a dar um pequeno contributo para colmatar a falta de informação e promover a divulgação de conhecimento importante e necessário.