17 maio 2006

O solo e o planeamento florestal

O solo é um dos factores do meio mais importantes para a definição da classe de qualidade da estação florestal, para além da precipitação, da temperatura, da luz e do vento, com os quais pode interagir alterando os seus efeitos. No entanto, quer o défice de informação disponibilizada pelo estado, quer os hábitos existentes na silvicultura (técnicos) em ignorar, ou quanto muito reduzir as propriedades do solo às da litologia, têm dificultado que o solo seja considerado de forma determinante na elaboração dos projectos florestais.

Embora a norte do Tejo, a região com maior potencial florestal, exista cartografia de solos e aptidão florestal à escala 1/100 000, o conhecimento sobre solos é praticamente inexistente à escala da gestão e do projecto florestal, determinando também a não existência de conhecimento sobre aptidão florestal. A sul do Tejo, existe cartografia de solos à escala 1/50 000, no entanto, a carta de capacidade de uso da terra dela derivada não se adequa minimamente à utilização para a floresta, sendo também muito limitada para diversos tipos de culturas agrícolas (pomares, arbustivas, etc.) e mesmo para os cereais já que não incorpora informação climática.

Para além do défice de informação, a não consideração do solo ou a conotação que se faz entre ele e a litologia nas aplicações florestais tem origem em diversos factores, que se passam a analisar.

Nos solos portugueses o material originário encontra-se próximo da superfície, conferindo-lhes espessuras relativamente reduzidas comparativamente com os solos de países de climas mais quentes e chuvosos. Por outro lado, grande parte das áreas atribuídas à florestação são declivosas, de impossível operacionalização em termos agrícolas, e consideradas, embora erradamente, como tendo sistematicamente solos pouco espessos. Embora genericamente aceite, a assunção de que os solos das áreas declivosas são pouco espessos é contrariada por trabalhos recentes nesses territórios à escala 1/100 000, onde se verificou elevada variabilidade de tipos de solos e a ocorrência de solos muito espessos também em declives elevados.

A permissividade relativamente à não consideração do solo parece ter sido particularmente facilitada num contexto de necessidade de rápida expansão da área florestal para abastecimento industrial, abundância de subsídios, baixa competitividade, reduzida valorização da floresta e menor expressão dos riscos associados ao investimento. No entanto, hoje em dia, o contexto económico e social é completamente diferente, caracterizando-se por um maior número de funções atribuídas à floresta, pela abertura dos mercados, pelo desinteresse crescente em relação à agricultura marginal, pelas alterações climáticas com efeitos na expressão dos riscos. Assim, é premente passar-se a conhecer e a utilizar informação adequada sobre solos e aptidão florestal (solo + outros factores) nos planos e projectos florestais.

Mas é também ao sector florestal, nomeadamente às autoridades que distribuem os subsídios e aos interessados na rentabilização da floresta, que cabe exigir a utilização de informação adequada sobre solos e aptidão florestal da terra antes da aprovação de projectos e planos de gestão. O velho hábito de ignorar o solo, ou quanto muito reduzi-lo a características litológicas gerais, tem que ser ultrapassado, devendo ser clara a relação entre o solo, a aptidão da terra e a avaliação de cada projecto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabens pelo trabalho, devemos tratar bem o ambiemte